Sabedoria

O sábio fica para trás para ajudar os outros, mas termina à frente.

Como devemos aprender?

É sábio quem pratica o wuwei (ação invisível) enquanto evita o yowei (ação visível).

O sábio concentra-se no que importa (harmonia com o Tao, paz, caridade...) e despreza coisas que não o ajudam a ser feliz (bens materiais, conversas que cultivem sentimentos maus...). Ele reduziu seus desejos diariamente até que não sobrasse nenhum contrário ao Tao; principalmente para alcançar a paz interior, mas também para que não lhe falte tempo ou energia para o essencial. Com isso ele tornou-se uma pessoa simples e feliz.

O sábio concentra-se completamente em tudo que faz, pois distrações, além de atrapalharem nosso desempenho, são um tipo de agitação; e ele evita agitações, porque elas reduziriam sua paz interior. Ele também é paciente e perseverante, pois sabe que uma jornada de mil quilômetros começa com um único passo; e ao mesmo tempo garante seu sucesso e evita o sofrimento adaptando-se a cada situação, pois sabe que manter-se o mesmo em situações diferentes iria contra a natureza. Mudar conforme a situação para evitar o sofrimento só não é fácil quando o orgulho nos impede.

Como devemos viver?

O sábio compreende que felicidade é a harmonia com o Tao e a alcança vivendo calmamente pelos outros, enquanto o tolo a busca vivendo agitado por si mesmo. Quando o tolo faz favores, acaba se frustrando com a ingratidão dos outros e tornando-se cada vez mais egoísta. O sábio alegra-se ao ajudar os outros mesmo que não receba gratidão, pois não tem vaidade. Também por isso evita competições, que causam mal-estar ao perdedor, e busca a cooperação, para que todos se alinhem cada vez mais ao Tao. Já que o sábio vive pelos outros, é impossível ser sábio sem amor; e, para ele, os problemas dos outros são oportunidades de servi-los. Ele ama a todos porque sabe que a natureza de todos é boa, ainda que se tenham desviado dela.

O sábio aceita apenas confrontos necessários para impedir um grande mal que alguém esteja praticando. Ao vencer, em vez de regozijar-se com a vitória, lamenta o conflito. Para manter um estado de harmonia, perdoa prontamente as ofensas sofridas; e, se o benefício da vitória não for suficiente para justificar um confronto, prefere deixar-se vencer para não frustrar seu oponente. O sábio baseia sua coragem na compaixão, sua generosidade na moderação e sua liderança na humildade; pois, sem essas bases, coragem, generosidade e liderança são tóxicas.

Para evitar dificuldades desnecessárias, o sábio antecipa os problemas, impedindo-os de surgir ou resolvendo-os enquanto são pequenos; e divide os problemas grandes em vários problemas menores, que resolve um a um até que o grande esteja resolvido.

Como devemos ensinar?

Em vez de dar conselhos, que podem levar os outros por caminhos contrários a sua natureza, o sábio ensina pelo exemplo, para que os outros o imitem se quiserem. Como a fala interfere na vida dos outros e às vezes expressa desejos infantis de chamar atenção, ele evita palavras desnecessárias, especialmente as de exibicionismo. Prefere ser humilde parecendo tolo a ser arrogante parecendo sábio, pois o maior tolo é o que se julga sábio por não conhecer suas limitações.

Para ajudar os outros com sabedoria, primeiro precisamos ser sábios. E o primeiro passo para nos tornarmos sábios é desenvolvermos hábitos e sentimentos bons. Uma vez sábios, devemos ajudar nossa família, depois nossa cidade, depois nosso país, e só então o mundo. Tal caminho é necessário porque precisamos compreender a nós mesmos para compreender as pessoas mais próximas a nós; e compreender a estas para compreender as pessoas mais distantes, que formam o restante do mundo.

O caminho do Tao é seguro, mas os homens preferem atalhos.

Tao Te Ching